Consumo Consciente

por Sheila Raposo
* Reportagem de página inteira sobre Consumo Ecológico veiculada no jornal Correio Braziliense, de 25/09/2002

Economizar água e energia e comprar produtos ecológicos são algumas das maneiras de contribuir com a preservação ambiental.

Quanto custa economizar recursos naturais? Alguns torcem o nariz diante da pergunta. Acreditam que ser ecologicamente correto é o mesmo que ser chato. Mas é possível se preocupar com a natureza sem precisar apedrejar restaurantes de fast food ou atacar dondocas envoltas em casacos de pele. Há dicas simples que tanto ajudam a preservar o meio ambiente quanto aliviam o bolso de quem as segue.

A advogada Wanda Morbeck (foto ao lado por Kleber Lima) vem tentando manter um padrão de consumo ecológico há oito anos: ''Sou uma garota-propaganda da natureza''



Umas requerem apenas mudanças de hábito; outras dependem de investimento financeiro inicial.

Diminuir o tempo de banho, por exemplo, é uma das dicas que exigem somente vontade própria. O indivíduo que toma essa decisão - embora o faça sem a intenção primeira de preservar água para os netinhos, e sim de reduzir as infladas contas de água e luz da casa -, age em pró da economia de recursos hídricos. É um ''involuntário'' na campanha contra um futuro desprovido do precioso líquido. Já aquele que se recusa a comprar hortaliças, legumes e frutas cultivadas com agrotóxicos e não leva para casa produtos de madeira (como lápis e prendedores de roupa) que não tenham sido fabricados com matéria-prima proveniente de reflorestamento é um consumidor ecológico nato.

''Há poucos com esse perfil'', observa Lester Izaac, coordenador do projeto Salve o Planeta, especializado em consultoria ambiental e divulgação de empresas que aliam iniciativas comerciais à preservação da natureza. ''A maioria pensa apenas no próprio umbigo'', acrescenta Lester. ''Por isso o apelo econômico é necessário'', argumenta o engenheiro Marco Aurélio Branco Gonçalves, do grupo gestor do programa Entulho Limpo, voltado para a redução do impacto ambiental causado pelo setor da construção civil no Distrito Federal.

Ou seja, se é bom para o bolso, o consumidor adere. Mas nem todos se movem apenas pela possibilidade de lucro. A advogada Wanda Morbeck, 52 anos, é uma dessas pessoas. Produtos biodegradáveis, vegetais sem agrotóxicos e carnes sem hormônios são algumas escolhas da consumidora na hora de fazer as compras de casa. Desde 1994, Wanda procura o consumo sustentável, seja na alimentação, na limpeza doméstica ou nos cuidados com a beleza. Além disso, dá palestras e participa de atividades voltadas para a preservação do meio ambiente. ''Sou uma garota-propaganda da natureza'', define-se.

Há várias outras formas de economizar recursos naturais, como trocar a energia elétrica por energia solar para aquecer a água; usar eletrodomésticos com o selo Procel de qualidade, que garante maior eficiência energética; instalar dispositivos de economia de água no chuveiro ou na torneira e até mesmo escolher móveis e piso de madeira de forma ecológica, como o piso de eucalipto. ''Em Brasília, ainda não há interesse'', diz Marco Antônio de Lacerda, gerente da loja de pisos Raspatac. ''No entanto, a mudança será inevitável. As madeiras mais procuradas estão se esgotando."

Produtos verdes

Falta informação, segundo atesta a arquiteta Jane Godoy. Para ela, a consciência ecológica do consumidor não é forte porque ele ainda não foi educado para isso. ''Poucas pessoas pedem um projeto de arquitetura ou decoração harmonizado com o meio ambiente'', observa. A arquiteta lembra que há no mercado opções de madeira alternativa e de produtos de fibra natural. ''O que falta é uma procura maior'', conclui.

O cuidado com a natureza também pode ser um meio de melhorar a vida de comunidades carentes. Como a do município de Cajueiro (AL), onde 80 pessoas trabalham em esquema de cooperativa na Bambuzeria Capricho, transformando bambus em utensílios domésticos. As peças feitas com o material são duráveis, resistentes e 100% biodegradáveis. ''Trabalhamos com bambus retirados de uma área de três hectares e já temos mais oito hectares plantados'', diz Patrícia Silva, secretária da Capricho. Móveis e peças de decoração também são produzidos pela cooperativa, mas o carro-chefe são os cabides. Por mês, são produzidos cinco mil peças do tipo. Em Brasília, ainda não há revendedoras dos produtos da bambuzeria.

Seja um cabide, uma hortaliça ou mesmo um eletrodoméstico, quando o consumidor prefere produtos ecologicamente corretos (ou ''verdes'') torna-se interessante, para as indústrias e fábricas, produzir, investir e distribuir este tipo de produto. E aí forma-se o ciclo: ganham o meio ambiente, o comércio e o consumidor.